O que Aprendi com Marshall Goldsmith
O meu aprendizado começou no credenciamento do evento. Enquanto reencontrávamos amigos, senti uma mão em meu ombro e ao virar à esquerda acreditava que encontraria mais um conhecido, mas era Marshall Goldsmith: cabelos brancos, vestia uma camisa polo verde e calça bege; esguio e com um largo sorriso no rosto. Ele cumprimentou-nos, tirou várias fotos, com uma simplicidade e humildade admiráveis.
O coach executivo que descrevi acima atende apenas altos executivos e CEOs de grandes empresas, a maioria delas listadas na Fortune 500. É autor de 3 best-sellers. Em outras palavras, o coach que contribui com mentes brilhantes, exigentes, impacientes e críticas.
Como você imagina que um coach com as características citadas acima, o número um do mundo, se comportaria? Quais as lições aprendidas com suas palavras e conduta em sala?Compartilhamos neste artigo 8 lições aprendidas com Marshall Goldsmith, no evento Leader Coach, realizado em São Paulo.
8 lições simples que muitos executivos levam a vida inteira para aprender e praticar
1. Simplicidade e humildade
A cena que descrevi no início deste artigo mostra a primeira grande lição: grandes profissionais e líderes, são grandes pessoas. Ser uma grande pessoa é ter a virtude humanidade para ser capaz de não deixar o sucesso subir à cabeça.
Quantos profissionais você conhece que usa o conhecimento ou notoriedade para colocar-se acima das pessoas? Nós já presenciamos pessoas deste tipo não apenas desdenhar, mas humilhar outras em público. Outra prática comum, mostrar-se de difícil acesso para afirmar a sua grandeza.
O comportamento do Marshall Goldsmith em sala foi nem sequer subir ao palco, durante a sua fala, mas andar entre nós. Com este gesto simples, ele dizia que não havia diferenças entre ele e a platéia, nos empoderava, sem palavras.
O que ele falava? a realidade de que ele, assim como qualquer pessoa, comete erros. Mas, em lugar de cobrar-se perfeição, aceita os erros e segue em frente.
A sensação ao sair do treinamento com o Marshall Goldsmith foi de empoderamento de quem somos, aceitação de nossas falhas e da certeza de que a distância entre nós e ele, é o que ainda não fizemos em prol da vida que queremos. O Marshall Goldsmith conseguiu isso sem gelo seco no palco ou comportamentos de palestrantes showman.
Para fechar esse item, vale trazer insights do livro O Efeito do Gatilho. Neste livro, Marshall Goldsmith afirma que o nosso desprezo pela simplicidade, desprezo por instruções e monitoramento e a fé infundada de que podemos chegar sozinhos ao sucesso, dispara em nós o gatilho da excepcionalidade – quando nós nos achamos melhor do que outras pessoas que necessitam de estrutura e diretrizes. Em suma, para mudar precisamos ter a humildade de aceitar que:
1. Não fazemos as coisas simples;
2. Precisamos de estrutura e monitoramento;
3. Precisamos da ajuda de alguém para atingir a mudança desejada.
2. Permita-se não ganhar sempre
Para Marshall Goldsmith, um dos desafios clássicos dos líderes de sucesso é vencer sempre. Tendemos a querer vencer em tudo, porque somos vencedores. Vencedores querem vencer. É muito difícil não vencer constantemente. Mas, a realidade e a certeza é de que pessoas inteligentes e vencedoras, falham.
A necessidade de ganhar foi exemplificada por Marshall Goldsmith:
“Você teve um dia muito difícil no trabalho, muita pressão e cansaço. Chega em casa seu parceiro e diz: Eu tive um dia difícil hoje e você responde: Você teve um dia difícil? Você sabe o que passei hoje?”
Marshall complementa: “Somos tão miseráveis que queremos ganhar inclusive nisso.”
O que fazer diante da necessidade de ganhar, que nos distancia das pessoas, gera conflitos e nos deixa ansiosos e insatisfeitos? Para Marshall Goldsmith é preciso aprender a fazer as perguntas certas para si mesmo: ”Na próxima vez que tiver a necessidade de ganhar, respire fundo e reflita: porque eu preciso ganhar agora?”
A necessidade de ganhar gera uma competitividade maléfica nas relações pessoais e profissionais. Os diálogos ficam improdutivos, as reuniões de trabalho tornam-se extensas e tensas e o ego alimenta-se da necessidade de provar uma verdade questionável.
A necessidade de ganhar sobrepõe-se à necessidade das companhias e dos times. Nesse caso, alimentar o ego é mais prioritário do que atender à real necessidade da organização. Depois, esses executivos perguntam-se porque a maioria das pessoas não são engajadas no trabalho ou porque um dia foram demitidos.
Na vida real os ganhos de curto prazo alimentam o ego e nos afasta do verdadeiro objetivo da liderança: conectar as pessoas em torno de um propósito comum.
3. Adicione menos valor
Os líderes bem-sucedidas querem adicionar valor em tudo, mas na visão de Marshall quando alguém vem com uma ideia boa e você tende a acrescentar algo, faz com que a ideia não seja mais dela.
“Almirantes não fazem sugestões porque o que eles falam é uma ordem.” Se você for um líder, as suas sugestões se tornam ordens, mesmo que a sua intenção não seja dar ordens.
Os líderes precisam aprender a valorizar as ideias dos outros verdadeiramente. Imagine como seria se você escutasse e valorizasse a ideia de alguém sem ter que acrescentar algo? Como seria considerar que a ideia do outro tem mais valor do que você pensa?
Observe-se, você é uma pessoa inteligente, mas é necessário provar a todo instante essa inteligência? Vale a pena diminuir o valor da pessoa?Porque é isso o que você faz quando acrescenta algo que supostamente faltou, passa a mensagem de que você sabe mais.
Da próxima vez que alguém trouxer uma ideia, escute, valorize, explore, demonstrando curiosidade e possibilidades. Aprenda a empoderar pelo diálogo, em lugar de esvaziá-las. As pessoas esvaziadas podem ser seus liderados, pares, amigos, filhos, pais, companheiro. Vale a pena fazer isso com eles?
Antes de sugerir algo, respire fundo e pergunte-se: vale a pena? Quantas vezes você já tentou mostrar a alguém que estava errado sobre algo? E Marshall Goldsmith indica 4 palavras para ser um excelente líder coach e uma pessoa melhor: “Ajude mais, julgue menos”. Parece simples, óbvio, não é mesmo? O desafio é praticar isso.
4. Use pequenas quantias de dinheiro para mudar o comportamento
Marshall Goldsmith sugere uma prática muito simples para mitigar comportamentos indesejados. É uma prática que dói no bolso. Quer saber como funciona?
Você se compromete a não falar determinadas expressões durante seus diálogos. Para isso, avise às pessoas que se relacionam com você. Faça um acordo com pelo menos uma pessoa, que convive diariamente, sobre as expressões que ela deve sinalizar, se forem faladas, e cobrar o pagamento da multa.
Como todos nós somos falhos, você perceberá o quanto é difícil deixar de fazer algo aparentemente simples que você já sabe que não deveria fazer, porém, acaba fazendo. Você poderá mensurar o quanto perde nas relações e literalmente no “bolso”, enquanto pratica esses comportamentos indesejados.
Perder dinheiro pode ajudar a parar com os comportamentos nocivos porque gera incômodo. Segundo a neurociência o indivíduo muda pela dor ou pelo prazer, sendo a dor o mecanismo neurológico mais potente para a mudança humana. Nesse caso, a dor de perder dinheiro, de forma constante, pode contribuir para inibir os comportamentos indesejados.
Vamos às expressões proibidas em um diálogo construtivo?
1. Não, mas, entretanto: essas palavras que expressamos, antes mesmo do outro terminar de falar, impede a fluidez na comunicação, o entendimento e valorização da mensagem do outro;
2. Legal, mas: O “mas” após um elogio apaga o que você disse de positivo sobre a pessoa;
3. Comentários destrutivos: “Falamos que o ambiente de trabalho deve ser um lugar de sinergia, mas porque esfaqueamos os outros pelas costas?”, explica Marshall.
4. Não, eu concordo: As pessoas cheias de opinião, costumam negar, antes de concordar. É uma forma de dizer que você já sabia, uma maneira de mostrar a sua inteligência.
Todas essas expressões são muito simples de entender, porém, as pessoas não precisam entender, elas precisam fazer. Essa perspectiva do Marshall Goldsmith confirma o quanto os executivos que desejam alta performance buscam conhecimento e aprendizado, mas esquecem que o verdadeiro aprendizado vem da prática, do ato do “fazer”.
Caso você use as expressões acima, comprometa-se a pagar uma pequena quantia, uma multa, por exemplo, R$ 5,00 toda vez que incidir em comportamentos inadequados. Guarde esse dinheiro durante um mês e depois doe para uma instituição de caridade. Depois contabilize as perdas financeiras e os ganhos da mudança.
5. Faça Follow up como Marshall Goldsmith
A chave para a mudança acontecer está no follow up. O monitoramento é o ingrediente chave para qualquer tipo de mudança seja comportamental ou organizacional. Todos os dias você precisa checar se fez o que era necessário fazer e não o que teve vontade. É a checagem que ajudará a manter a disciplina, incluindo as tarefas simples. É exatamente nas tarefas simples que boa parte dos líderes se perdem.
Os executivos e líderes têm uma grande necessidade de entender sobre as coisas e até entendem, mas não praticam a execução alinhada com o entendimento que têm. Isso é evidenciado nas pequenas ações diárias, que são simples de entender, mas difíceis de fazer.
É o follow up constante que ajudará a fazer as coisas simples. Se você acredita que não precisa de checklist para fazer atividades simples, provavelmente está deixando de executar de forma disciplinada várias atividades relevantes para atingir suas metas.
6. Você precisa da ajuda de outras pessoas para mudar
Não adianta, você não mudará sozinho. Você precisa de alguém que faça as perguntas certas para você e contribua para seu monitoramento. Marshall Goldsmith paga uma pessoa para ligar para ele todos os dias, para fazer perguntas feitas por ele, com o intuito de lembrá-lo de manter a disciplina de fazer o que precisa ser feito.
O Coach número 1 do mundo, fez questão de usar seu próprio exemplo para reconhecer a sua vulnerabilidade e como isso a necessidade de follow up diário para manter as mudanças necessárias.
7. Aprenda a fazer perguntas para si mesmo
Fazer perguntas é uma das qualidades essenciais do líder do futuro. Fazer as perguntas certas para os outros e para si mesmo.Se você não faz perguntas, provavelmente tem forte tendência a dizer as pessoas o que devem fazer. O líder que diz ao outro o que fazer desenvolve pessoas dependentes dele, profissionais que não sabem pensar, criar, inovar.
Pessoas com perfil de dependência não se encaixam mais em um ambiente volátil, incerto e de mudanças rápidas e profundas como o que estamos vivendo agora. Por outro lado, fazer as perguntas certas não é tão fácil quanto parece. Requer técnica, treino e disciplina.
8. Preocupe-se com pessoas que querem mudar
Perdemos muito tempo e nos estressamos com pessoas da nossa rede de relacionamento que não querem mudar. Para Marshall Goldsmith, é melhor não preocupar-se com quem não deseja mudar. Deixe-as em paz e fique em paz. Não perca tempo com essas pessoas.
E como última lição, citando Peter Drucker: “Eu não preciso ensinar os executivos o que fazer e sim o que deixar de fazer.”
Se você achou que já sabia sobre tópicos acima, mesmo sem precisar estar com Marshall Goldsmith, talvez você tenha deixado passar um detalhe. A questão aqui não é o que você sabe, e sim o quanto você realmente pratica o que sabe. São pequenas ciladas, quase imperceptíveis que nos levam em uma direção oposta ao que precisamos para atingir nossas metas profissionais e de vida. Vamos exercer a humildade e começar a praticar?
Lília Barbosa & Creoncedes Sampaio
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