Empreendedorismo Feminino: quando sensibilidade e força andam juntas
No Brasil, o empreendedorismo feminino cresce rapidamente e já representa 51,5% das empresas criadas nos últimos 3,5 anos, segundo dados da Global Entrepreneuship Monitor (GEM), realizada em conjunto com o Sebrae e IBQP.
O empreendedorismo já foi considerado o domínio dos homens, mas isso mudou no Brasil e no mundo: mais de 9 milhões de empresas nos EUA são agora lideradas por mulheres, empregando cerca de 8 milhões de pessoas e gerando 1,5 trilhões de dólares em vendas, de acordo com a National Association of Women Business Owners.
Embora mais mulheres estejam abraçando o empreendedorismo, muitas vezes elas enfrentam desafios que normalmente não são compartilhados por homens.
Quando o propósito fala mais alto
É fato que 48% do empreendedorismo feminino é um empurrão dado pela necessidade e não pelo sonho empreendedor. A necessidade de sustentar a família ou de ajudar no aumento da renda familiar é um dos fatores que impulsionam esse crescimento.
Mas a beleza disso é que as mulheres começam pela necessidade, depois se apaixonam pelo negócio e finalmente descobrem que seu legado em ajudar o crescimento de outras pessoas e famílias por meio do seu empreendimento é maior do que quaisquer dificuldades e jornadas duplas que precisam enfrentar diariamente.
A descoberta de um propósito maior no ato de empreender é o que verdadeiramente inspira essas mulheres e as tornam líderes admiradas por seus colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros de negócios.
É o propósito que mantém a empresa, mesmo quando a empreendedora descobre que abrir e manter um negócio lucrativo está longe de ser algo fácil. É um exercício eterno de flexibilidade, reinvenção, persistência e muito trabalho.
Não importa o quanto esse empreendimento cresce, a cada nova etapa, requer um novo olhar para mantê-lo no mercado. Qualquer abordagem do empreendedorismo onde há retornos rápidos e pouco trabalho é irreal.
Nem tudo são flores
Podemos afirmar que a empreendedora de pequeno porte trabalha mais do que qualquer executiva de carreira, e por isso, se o negócio prosperar, tem a possibilidade ter uma remuneração acima de qualquer trabalho assalariado.
Um dos grandes desafios de qualquer empreendedor é usar o seu tempo para atividades que realmente gerem valor para o cliente e o negócio. A hora gasta com atividades rotineiras e operacionais, não apenas estressa, também aniquila todo o potencial de crescimento do negócio. O empreendedor, em lugar de pensar em estratégias, gasta tempo e energia com atividades irrelevantes.
A curto prazo, problemas rotineiros são resolvidos quando o “dono” está por perto. A longo prazo, esse comportamento impede o crescimento da empresa. O empreendedor passa a ser um empregado mal remunerado do próprio negócio, sem tempo para cuidar de si e da família.
No empreendedorismo feminino o desafio ainda é maior. Sabemos que a jornada feminina é dobrada: cuidar dos filhos, da família, do companheiro. Independentemente do tamanho desse negócio, empreender drena a energia. E os motivos são comuns nas pequenas empresas: ausência de métodos na gestão, falta de habilidade em liderar com foco em resultado, dificuldades com funcionários, faturamento e rentabilidade abaixo do esperado.
Desafios do empreendedorismo feminino
Há pelo menos 5 principais desafios no empreendedorismo feminino que devem ser vencidos. Veja abaixo se você se identifica com algum deles ou todos.
1. Encontrar a própria voz
Muitas mulheres para fortalecer-se no ambiente ainda predominantemente masculino tendem a adotar uma postura masculina: excesso de agressividade, competitividade e severidade. Ao fazer isso, as empreendedoras perdem sua identidade e diferenciação.
Encontrar a própria voz é permanecer fiel a si mesma e formar a partir dos seus valores e propósito a sua marca pessoal, seu estilo próprio de liderar e obter resultados. O empreendedorismo feminino é marcado por mulheres que souberam encontrar a sua voz e o seu legado.
2. Jogar com os meninos
O empreendedorismo feminino é desafiado quando uma mulher jovem tem que dar direção aos homens, muitas vezes mais velhos do que ela e também quando ela substitui um homem que era bem quisto pelos liderados. Será preciso usar toda a potência das características das mulheres que chegaram ao topo para virar esse jogo. Veja quais são essas características no meio deste artigo.
3. Construir uma rede de suporte
No Brasil, você pode contar com o Programa 10.000 mulheres criado globalmente pelo banco de Investimentos Goldman Sachs e da Goldman Sachs Foudation que proporciona educação em administração e negócios a mulheres empreendedoras.
A Rede Mulher Empreendedora, fundada pela Ana Fontes, apoia o empreendedorismo feminino com notícias e informações sobre o tema e realização de eventos. É uma rede com cerca de 36.000 mulheres. O Itaú Mulher Empreendedora apoia donas de empresas por meio de capacitação e as conecta para troca de mensagens com outras empreendedoras.
Há uma frase bastante difundida que diz: “Não é o que você sabe, é quem você conhece que é determinante para o seu sucesso final”. O desafio da mulher empreendedora é conhecer as pessoas certas para oxigenar as suas ideias, desafiá-la e fazê-la sair da mesmice.
4. Equilibrar negócios e vida familiar
O equilíbrio entre trabalho e vida é uma das metas de muitos empreendedores, independentemente se são homens ou mulheres. Mas, as mães que iniciam as empresas têm que gerir simultaneamente suas famílias e negócios.
E nesta área, as expectativas tradicionais de gênero ainda prevalecem. As “mamaempreendedoras” têm responsabilidade dupla e encontrar maneiras de dedicar tempo para a empresa e família é fundamental para realmente conseguir esse equilíbrio entre trabalho e vida.
5. Lidar com o medo do fracasso
De acordo com o Global Entrepreneur Monitor 2002, da Babson College, o medo do fracasso é a principal preocupação das mulheres que iniciam startups. A falha é uma possibilidade real em qualquer negócio, mas Delia Passi, CEO da Women Certified e fundadora do Women’s Choice Award, afirmou que os erros não devem ser vistos como algo negativo.
“Você precisa ter grandes erros para ter um sucesso enorme. Você pode precisar de cem ‘nãos’ para obter um ‘sim’, mas esse sim o tornará mais bem sucedido amanhã do que você é hoje”.
Passi, afirma:
“Eu deixei de me preocupar se as pessoas me tratassem de forma diferente nos negócios por causa do meu gênero… e pararam de comparar-me com os outros, incluindo os homens. A linha inferior é, se você tiver sucesso, ninguém se importa se é homem ou mulher.”
Características do Empreendedorismo feminino
Diante desse cenário desafiador do empreendedorismo, as mulheres têm algumas características que contribuem para serem bem sucedidas e talvez isso explique a ascensão delas também como executivas. São 6 fatores centrais que levam as mulheres ao topo e aumentam as taxas de sucesso do empreendedorismo feminino.
1) Sensibilidade
A mulher empreendedora tem a capacidade de perceber, alinhar expectativas e conectar-se emocionalmente às pessoas. Em um cenário onde lidar com fornecedores, clientes e funcionários requer linguagem e estratégias específicas, a conexão emocional é fator determinante para criar laços de confiança.
2) Versatilidade
A mulher possui uma tendência de conseguir atuar em várias frentes de forma versátil com muita desenvoltura. Essa característica é determinante para o sucesso nos novos tempos, onde cada vez mais será preciso reaprender sobre o mercado e o próprio negócio para manter-se competitivo no mercado.
3) Resiliência
A capacidade de se adaptar às mudanças iniciadas ou não pelas empreendedoras as torna muito fortes em um cenário de mudanças constantes.
A mulher empreendedora ao unir sensibilidade e versatilidade, ganha uma de adaptação admirável em um mundo moderno, conectado e veloz.
4) Mentalidade forte = pulso forte
As mulheres que chegam ao topo têm mente forte. Isso não significa que são agressivas ou grosseiras. Pelo contrário, uma mulher de mentalidade forte mostra confiança.
A força mental gera uma auto-imagem saudável e as leva a assumir a responsabilidade pela sua vida e suas escolhas. O espírito empreendedor, por sua própria natureza, exige autoconfiança e coragem. Sem uma mentalidade forte é impossível ter essas características.
5) Atitude positiva
Não há uma energia similar quando uma mulher de comando e positiva entra em uma sala. Uma atitude positiva é o combustível necessário para levar qualquer ideia da concepção à realização. A liderança positiva é cada vez mais necessária para criar ambientes de trabalho focado em resultados saudáveis.
As pesquisas da Gallup, referência mundial em engajamento, mostram que um líder que usa o melhor das pessoas – forças, virtudes e talentos têm equipes muito mais engajadas e felizes, liderados mais produtivos e uma empresa mais lucrativa.
6) Superação de obstáculos = obstinação
Alcançar uma posição de comando, seja em sua própria empresa ou como executiva, requer bastante esforço e trabalho da mulher para conquistar seu espaço e ser respeitada. Talvez, por isso, as mulheres empreendedoras tendem a ter uma força interior incrível, capaz de superar quaisquer obstáculos. São mulheres obstinadas.
Essas mulheres aprenderam a usar a adversidade para ganhar o jogo. As adversidades não assustam as empreendedoras e contribuem para aumentar as estatísticas de sucesso do empreendedorismo feminino.
Quem são e como pensam as mulheres poderosas?
Se você está procurando alguma inspiração no universo do empreendedorismo feminino, veja as empreendedoras bem-sucedidas listadas abaixo e saiba como algumas delas estão mudando o Brasil e o mundo dos negócios.
Zica Assis
Fundadora Beleza Natural. Foi babá, faxineira e empregada doméstica antes de empreender. Foi eleita pela Revista Forbes uma das mulheres mais poderosas do Brasil. Hoje possui uma cadeia de salões de beleza com foco em consumidores da classe C. A empresa desenvolveu produtos e serviços inovadores e exclusivos para cabelos crespos e ondulados.
“Eu acredito muito no sonho e sabia que realizar o meu sonho poderia ajudar muita gente. Por isso, tinha essa certeza inexplicável de que ia dar certo.”
Luiza Helena Trajano
Revolucionou a empresa da família e a transformou em um dos maiores varejistas do Brasil, o Magazine Luiza.
“Quando você tem um cargo alto, as pessoas ao seu redor passam a falar apenas aquilo que você quer ouvir. Mas você só cresce quando ouve aquilo que não quer ouvir. O gestor precisa fazer um esforço para ouvir feedback negativo. Por isso, eu fico à frente do SAC do Magazine Luiza.”
Regina Tchelly
Fundadora do Favela Orgânica, que ensina a cozinha criativa, produz e comercializa alimentos saudáveis feitos a partir de partes de frutas, verduras e legumes que normalmente são descartadas. O projeto começou no morro e já ganhou o mundo.
“Gosto de olhar com amor e respeito para o alimento. Faço parte do mundo, então transformo o mundo.”
Chieko Aoki
Fundadora e presidente da Blue Tree Hotels, uma das maiores redes hoteleiras do país. “Há sempre altos e baixos, mas se eu quero fazer, vou lutar e persistir”
“Eu acho que hoje é importante liderar muito mais com sabedoria para entender quando você sabe e quando não sabe. O líder tem que ter muita capacidade de ouvir, de identificar, de criar oportunidade, abrir caminho para as pessoas. Isso para mim é muito mais importante do que apenas inspirar.”
Sonia Hess
Transformou a Dudalina, empresa da família, em uma referência nacional e internacional em roupas.
Dois anos e meio depois de assumir a presidência, Sônia Hess já havia elevado o faturamento em 50%. Superou o cansaço e trabalhou dia e noite a fim de transformar a fábrica regional e familiar em uma referência para toda a América Latina.
“Filha, eu só vou voltar para casa quando vender a última camisa.” Esta frase veio da mãe e até hoje motiva Sônia Hess a ir até o fim em todas as suas iniciativas.
Cristina Junqueira
Co-fundadora da Nubank, uma startup brasileira no segmento de serviços financeiros. Atua como operadora de cartões de débito, crédito e banco digital com operações no Brasil.
“Como manter uma cultura de inovação? É com diversidade. Se tiver 5 pessoas parecidas, elas pensarão igual e irão trazer as mesmas ideias. Aí, eu não preciso de cinco, Basta uma, correto?”
Ana Fontes
Fundadora da Rede Mulher Empreendedora, espaço dedicado exclusivamente ao empreendedorismo feminino. Tem como objetivo unir e apoiar mulheres empreendedoras em todo o país. Tem mais de 36.000 pessoas cadastradas na rede.
“O mundo corporativo te ‘desprepara’ para ter um negócio, pois ele oferece várias ‘casinhas’ e você se sente protegido por elas. O empreendedorismo é selva, não tem ninguém que te ensine o que é RH, não vai ter departamento jurídico para te proteger. Não adianta ter sido executivo em uma multinacional: no empreendedorismo, você precisa começar do zero.”
Leda Braga
Fundadora da Systematica Investments. Agora, ela gerencia mais dinheiro do que qualquer outro fundo hedge administrado exclusivamente por uma mulher.
“Eu gosto de dizer que a vida é feita de ciclos. Por isso, depois de cada tempestade vem a bonança.”
Gisele Bündchen
Além de ser a modelo mais paga do mundo, Gisele é empresária e comanda a Gisele S.A.
“Jamais quero ser uma daquelas meninas que, aos 30 anos, tudo o que sabem fazer é desfilar. Quero olhar para trás e ver que fiz o melhor entre os meus 14 e 26 anos. Mas, depois disso, iniciei um novo capítulo. Há pessoas que desfilam para ir a festas e para ganhar notoriedade. E há pessoas como eu. Vim de uma família simples. Ser modelo, para mim, é uma chance de ganhar dinheiro e criar negócios.”
Helena Rizzo
Já foi eleita a melhor chef do mundo, Helena Rizzo fundou o restaurante Maní e hoje é um dos mais badalados de São Paulo.
“Sempre tive uma relação muito intensa com a cozinha. Trabalhava muitas horas, sem parar, sem respirar. Com os anos , fui encontrando os meus espaços. Agora com a Manu, precisei entender de vez como funciona o tempo e a melhor maneira de aproveitá-lo.”
Arianna Huffigton
Fundadora do The Huffington Post.
“A falta de medo é como um músculo. Eu sei, por minha própria vida, que quanto mais exercito, mais natural torna-se não deixar que meus medos me dominem.”
Deseja empreender?
Como você leu neste post, o empreendedorismo feminino é uma jornada de grandes desafios e enormes contribuições e recompensas. Iniciar essa jornada requer sensibilidade, versatilidade, resiliência, mentalidade forte, atitude positiva e obstinação. O aprendizado ocorre no caminho. Ninguém nasce sabendo empreender ou com as características prontas. Deseja empreender? É preciso estar disposta a pagar preço para percorrer essa jornada difícil e, ao mesmo tempo maravilhosa. Junte-se a milhares de mulheres que estão mudando a sua realidade e impactando milhares de vidas.
Lília Barbosa
Empreendedora, escritora e fundadora da Cozex. Empresa que atua com aumento de eficiência, engajamento, produtividade e lucratividade, por meio do desenvolvimento de lideranças, gestão, estratégia e coaching (executivo e negócios). Autora do livro Significado: um guia para a vida, o bem-estar e a paz.
liliabarbosa@cozex.com.br